O Efeito Bolha.

  São raros os dias em que eu não me sinto como se vivesse dentro de uma bolha de sabão.  Desde sempre que me lembro de mim mesma...

 


São raros os dias em que eu não me sinto como se vivesse dentro de uma bolha de sabão.
 Desde sempre que me lembro de mim mesma como uma pessoa extremamente calma, no entanto, dentro de mim correm sempre as mais tremendas tempestades. Contudo, é tudo delicadamente silêncioso. 
Se fosse necessária a personificação da frase " A Calma antes da Tempestade ", seria eu. 

 Só quando se começaram a romantizar doenças psíquicas como, ansiedade, pânico e depressão é que eu compreendi que o que eu sentia dentro de mim não era assim tão descabido.
 
Como sempre mantive o silêncio.
 Não queria admitir para o mundo ou sequer para mim mesma que estava desequilibrada em algum sentido.
 
Havia que ser perfeito.

O que não vês não existe, ouvi dizer.

Ignorando a verdade, tudo parecia desastrosamente perfeito . 
No fundo ninguém é burro e todos sabemos que andamos num tiroteiro diário de auto-estimas e certezas. Destruirmos-nos uns aos outros sem sequer dar por isso.

Sou por natureza uma pessoa impaciente, sempre o fui. Detesto tudo e todos que me causem incertezas e que abanem ou destruam as minhas rotinas, esses são os alvos que, inconscientemente eu acabo por destruir e eliminar da minha vida.
Sinto um medo terrível de me espalhar ao comprido, de dar um passo em falso, de dizer uma palavra ridiculamente mal, de dizer um palavrão na hora errada ou até mesmo de tratar por "tu" alguém que seja politicamente mais correto tratar por "você".

Sei que há quem lhe chame o sindrome da perfeição porém, como reconheço estar longe de ser perfeita eu chamo-lhe o Efeito Bolha.
Sou feita de rotinas e consciências, pensamentos velozes que seriam multados se de carros se tratassem.

" Estás sempre com a cabeça na lua", " Vejo que nunca prestas atenção nas aulas... como é que consegues manter as notas?", "Tens um ar cansado", " Tens a certeza que estás bem, pareces triste"

" Não se passa nada"

"Vá, não mintas, eu conheço essa tua cara."

E não se passa realmente nada. 

Tantas frases repetidas que se tornam divertidas da quantidade de vezes que passam em loop ao longo de um dia que não está a correr tão bem.
Porém a que mais ouço é uma em especifico.

Pensas demasiado nas coisas.

Porra, porra, porra.... lá vamos nós outra vez.

 será que realmente penso demasiado nas coisas?
 Será que estou a pensar demasiado sobre este assunto? 
Será que era a isto mesmo que se referiam? 
Estarão fartos de mim? 
Há quanto tempo estarei calada?
Estão a julgar-me?
Pode ser que não..
Sou má companhia? 
E se a minha família achar o mesmo e eu passar a ser uma vergonha? 
E se acharem que sou louca e me quiserem enviar para um hospital?
E se por causa disso for despedida? 
E se entrar em pânico no exame e não entrar na faculdade? 
Eu tenho muito frio no inverno.. não conseguia viver na rua
Será que existem abrigos aqui perto?
 Onde será que dormem os sem abrigo? 
Deixarei de ser vegetariana?

MERDA EVA, ESTAS A FAZE-LO DE NOVO!

Peço desculpa.
Estou sempre a pedir desculpa
Estou cansada de pedir desculpa.
Devia parar.
Mas depois vão achar que eu não me importo.

Sei que existem refúgios, fáceis e tentadores.
Mas tiram-me a capacidade de pensar 
Que apesar de me matar, torna-me todos os dias mais forte.

Penso demasiado e pesa-me em demasiada.
Mas estou cansada de viver dentro de uma bolha que, frágil, pode rebentar.
Eu não quero rebentar com ela.
Amanhã será um dia melhor.





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1 comments

  1. Amanhã será um dia melhor e espero que hoje ainda o seja. Desabafo intenso e lindo, assim como o nome-efeito dado a esses pensamentos que, vira e mexe, insistem em nos arranhar o fundo da cabeça.

    Gostei também das fotografias 😊

    Abraços e uma ótima semana para você!

    As moscas na janela

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